Para onde vai o crowdsourcing?



Elizabeth Gerber: os caminhos da colaboração
São Paulo -  Cada vez mais populares, os serviços de crowdsourcing têm pela frente um desafio. Reunir colaboradores é simples, mas ninguém ainda conseguiu encontrar a melhor maneira de estimulá-los criativamente. Sem isso, fica difícil conseguir resultados inovadores nessas plataformas.
“Eles precisam estar supermotivados para superar a incerteza e o risco envolvidos no trabalho criativo”, afirma Elizabeth Gerber, diretora do Laboratório de Ação Criativa da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, e especialista na área. Veja o que ela disse a INFO:

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INFO – Há um número crescente de plataformas de crowdsourcing. Como esse modelo vai evoluir no futuro?
Elizabeth Gerber – As plataformas de crowdsourcing funcionam como intermediárias entre dois polos antes desconectados de pessoas – um que precisa de um trabalho concluído e outro que precisa trabalhar. Para se diferenciarem entre si, esses serviços estão se especializando em algumas áreas, como design gráfico ou desenvolvimento de software. Suspeito que, à medida que o número de sites desse tipo aumentar, vão se transformar em redes altamente especializadas de colaboradores. Apenas os que tiverem as pessoas mais talentosas vão sobreviver. Quando isso ocorrer, o Google, cuja missão é organizar a informação do mundo, o Facebook, que tem o objetivo de promover a comunicação, e o eBay, que tem a missão de criar uma plataforma global de comércio vão adquirir os serviços de maior sucesso e criar um ponto de entrada para todo mundo.
INFO – O crowdsourcing está gerenciando a criatividade de uma maneira melhor hoje?
Gerber – Não. As plataformas não conseguem fazer isso de um modo melhor do que no passado. Gerenciar a criatividade é muito desafiador. Esse é o assunto de centenas de livros de negócios. Você precisa dar instruções suficientes para o serviço, mas também tem de dar autonomia para não limitar seus colaboradores. Não basta ter trabalhadores talentosos. Eles precisam estar supermotivados para superar a incerteza e o risco envolvidos no trabalho criativo. As plataformas de crowdsourcing levam pessoas a se tornarem gerentes da criatividade. Muitas delas nunca foram treinadas para isso. Na outra ponta, os serviços encorajam muita gente com pouca prática profissional a assumir tarefas que envolvem criatividade. Há pessoas inexperientes dos dois lados. As plataformas de crowdsourcing facilitam a comunicação entre os polos, mas não fazem praticamente nada para melhorar o gerenciamento do trabalho criativo.
INFO – O crowdfunding também passa por esse problema?
Gerber – O crowdfunding tem sido bem-sucedido em projetos relativamente pequenos, que indivíduos ou times menores conseguem gerenciar. Os desafios estão relacionados à escala. Pessoas criativas que usam plataformas como o Kickstarter dizem que lidar com a expectativa dos financiadores pode ser assustador. Cada pessoa que contribui espera receber um atendimento ao consumidor individualizado. Amadores e profissionais que pedem financiamento não são treinados normalmente em oferecer isso para as centenas de pessoas que contribuem.
Eles preferem criar e trabalhar nos seus projetos. Isso dificulta a situação. Imagine ir a uma loja enorme esperando conversar com o designer de cada produto que você vai comprar. É impossível. Outro desafio é que os autores dos projetos tendem a pedir muito pouco dinheiro, sem se dar conta de todas as despesas envolvidas para criar o produto. Isso é comum em várias startups. O estresse para implementar uma ideia com recursos limitados é um pesadelo para qualquer criador.

INFO – Se você for delegar uma tarefa que envolve criatividade, é melhor pedir à multidão de internautas ou a uma equipe local?
Gerber – Vai depender do quanto esse trabalho depende de um envolvimento local. Não pediria aos internautas para desenvolver um novo currículo escolar para as crianças do meu bairro, mas solicitaria o desenho de um logotipo para os Jogos Olímpicos. Quando uma perspectiva global é exigida, o crowdsourcing pode ser muito poderoso.
INFO – Como o crowdsourcing e o crowdfunding estão mudando o trabalho?
Gerber – Ambos estão ajudando a democratizá-lo. Tarefas que envolvem criatividade não estão mais sob o domínio de profissionais especializados. Se alguém tem uma ideia, pode criá-la, vendê-la e financiá-la por meio de uma rede de indivíduos. Com isso, amadores podem construir um portfólio e adquirir conhecimento que é tradicionalmente oferecido em escolas ou na indústria. Diferentemente do que ocorre na educação formal, há um retorno imediato sobre o valor de cada ideia. Por esse motivo, estudantes estão testando, cada vez mais, o potencial para suas carreiras criativas na internet.
Dentro da indústria, o crowdsourcing fornece competição externa para os profissionais internos e aumenta as expectativas por resultados. Funcionários criativos vão continuar a ser contratados, mas projetos que não exigem acesso a propriedade intelectual vão ser distribuídos para plataformas de crowdsourcing. Nas empresas, o crowdfunding vai alterar a expectativa das pessoas em relação ao valor de recompensa pelo seu trabalho. O nível será elevado em países com salários baixos e diminuído nos que pagam mais.
Fonte:
Por Mauricio Moraes, de INFO Online
 
• Quarta-feira, 31 de agosto de 2011 - 20h48